Álvares de Azevedo: LEMBRANÇAS DE MORRER Eu deixo a vida…

LEMBRANÇAS DE MORRER

Eu deixo a vida como deixa o tédio Do deserto, o poento caminheiro, – Como as horas de um longo pesadelo Que se desfaz ao dobre de um sineiro;

Como o desterro de minh?alma errante, Onde fogo insensato a consumia: Só levo uma saudade – é desses tempos Que amorosa ilusão embelecia.

Só levo uma saudade – é dessas sombras Que eu sentia velar nas noites minhas. De ti, ó minha mãe, pobre coitada, Que por minha tristeza te definhas!

Se uma lágrima as pálpebras me inunda, Se um suspiro nos seios treme ainda, É pela virgem que sonhei. que nunca Aos lábios me encostou a face linda!

Só tu à mocidade sonhadora Do pálido poeta deste flores. Se viveu, foi por ti! e de esperança De na vida gozar de teus amores.

Beijarei a verdade santa e nua, Verei cristalizar-se o sonho amigo. Ó minha virgem dos errantes sonhos, Filha do céu, eu vou amar contigo!

Descansem o meu leito solitário Na floresta dos homens esquecida, À sombra de uma cruz, e escrevam nela: Foi poeta – sonhou – e amou na vida.

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