Andrê Gazineu: ?Muito bem, muito bem. Sentença de…

?Muito bem, muito bem. Sentença de morte.? Ele continuou olhando fixamente para a ponta do nariz do juiz. Piscou os olhos. Um nariz justo. Fechou os olhos. Voltou a encarar. Cinquenta anos. Dois casamentos. Poucos acertos. ?Alguma coisa a declarar?? Ele sentiu um formigamento e lembrou-se de como era estar sentado em uma quadra de vôlei e do segundo que antecede uma violenta bolada na nuca. ?Não, senhor.? ?Não teme a morte?? ?Não, senhor.? ?O que significa a morte para você?? ?Um grande salto no nada.? ?Tem noção do que ESTÁ ACONTECENDO?? “Leio os jornais, senhor. Sem muito interesse. Abomino toda a ideia que me é indiferente.? ?Tem CIÊNCIA do que está em jogo?? ?Não acredito na ciência, senhor.? ?Não acredita na ciência? O que seria da humanidade sem a ciência?? ?Quase a mesma coisa, mas sem antibióticos e netflix, senhor.? ?Está bancando o espertinho?? ?A maior parte do tempo, senhor. No resto, tento ser escritor.? ?O que é ser um escritor?? ?Fracassar na ação.? ?E o que você escreveu?? ?Uma refuta aos argumentos de Emil Cioran, senhor.? ?E quais são eles?? ?Prozac e psicoterapia, senhor.?

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *