Pele Negra
Escrito por André R. Fernandes
Ouço de longe o grito da tua cútis Vejo o sangue da tua tenaz Inundar os ribeiros da minha vida.
O dia amanhece silencioso As aves do campo permanecem nos ninhos Não ventila, não há céu azul Pois o dia amanheceu ensanguentado.
Os iníquos te sitiaram Levaram-te para matadouro Deixando-te despido Insultaram-te com cusparada Por isso ouvi a tua pele negra estrondear
Teus olhos cobertos de sangue Teus dentes quebrados Teu dedo médio escalpelado Teu pescoço com grilhões Tua boca presa à máscara de ferro Tuas costas com marcas da chibata
Era chicoteado por ter a pele escura É xingado por ter cabelo pixaim É odiado por ter nascido negro Mas não tem como mudar a cor da tua pele.
Lembro-me dos teus ais As trilhas guardam até hoje Tuas pisadas de fugitivo da escravidão As copas das árvores relembram até hoje Os negros mortos enforcados
Na Mãe África Gozavas da liberdade Era livre para cultuar teus deuses Tomava banho nos rios Mas a tua pele teve que ser machucada.