Antonio Carlos Secchin: Cinzas Talvez o verão tenha queimado os…

Cinzas

Talvez o verão tenha queimado os frutos. As mãos, ressequidas, apenas recolhem restos. Cinzas, ardores, ossos. Havia ali, não se lembra?, um rumor de desejo, que nenhuma palavra salva: todo poema é póstumo. Botei a boca no mundo, não gostei do sabor. Ostras e versos se retraem ao toque ácido das coisas tardias. Na sombra insone do meu quarto, o vazio vigia, na espreita do que não há: por aqui passaram pássaros que não pousaram. Fui traído por ciganas, arlequins e cataclismos. De nada me valeram guardar relâmpagos no bolso, agarrar nas águas as garrafas náufragas.

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