Arcise Câmara: Eu sinto que não pertenço a este lugar…
Eu sinto que não pertenço a este lugar
Sou uma máquina de jogar coisa fora, não sei ao certo quem eu sou, vivo numa sensação incomoda de vulnerabilidade, é a cultura do instantâneo, a relação poderia ser chamada de amizade, mas não era. Muitas pessoas que faziam parte do meu convívio social passaram a evitar, a palavra mãe trouxe à tona emoções amargas de abandono, não dava para mudar o início da vida que foi cheio de informações desconexas. Sou um ser espiritual, estou desapontada e chateada, não consigo imaginar outra pessoa sentindo da forma como me sinto, estou doente sem recuperação rápida, me sinto tão humana, embora o mundo não acredite. Foi difícil obter a serenidade, nem percebi o poço profundo que eu estava, por um momento tive a calma que eu precisava, não quero parecer mal-educada, mas isso é só uma confusão das ideias. A melhor maneira de saber o que queremos de verdade é nos livrarmos do que não queremos. Decidi morar sozinha, assim tinha chance de ser bem-sucedida ?nas relações?, uma atitude nada nobre. Nunca fui o lado feminino da humanidade, nunca aprendi a renunciar, sempre fui de fazer as coisas quando posso e na hora que posso, por uma época me incentivaram a explorar a veia literária que pulsa em mim. O meu sonho era ter quarto igual de hotel, achava que quanto menos entulho em casa, menos entulho na cabeça e na alma, vivia quebrando barreiras difíceis, não conseguia me impor como indivíduo e se raramente conseguia, era uma vitória. Por anos todas as escolhas que fiz não eram minhas, eram ordens disfarçadas de escolhas, por muitas vezes me sentia a criança aprendendo a educação formal, com medo de falar com franqueza, com medo de ser julgada. Foi difícil ignorar meus sentimentos por tanto tempo, minha mente nunca parava quieta, esse é um dos riscos mais maravilhosos da vida a progressão da nossa mente, se uma mentira recebe atenção suficiente, ela pode crescer e ferrar a sua vida. Abracei o presente e decidi pela felicidade.