Carsan: o choro era domingo. passava pela rua…

o choro

era domingo. passava pela rua Janice com sua filha de mãos atreladas. olhos bem abertos e verdes.

era domingo de ventos num desses um cisco num outro Janice a moça de olhos bem abertos e verdes

cisco que pousa em olhos bem abertos e verdes. dessa vez era o de Janice. lágrimas desciam

a polícia passava e Janice a moça de olhos verdes e grandes não parava de lacrimejar

Janice era branca, mulher fina e muda. sabe-se lá porque que na tentativa de acalmar as lágrimas dos olhos seu dedo flechava Muriel

Muriel. quinze anos. fazia compra para sua mãe Katia na feira. provava das uvas das senhoras que lhe oferecia uvas.

uvas, sorriso não.

sabe-se lá o que fizera na vida Muriel. se nascer não bastasse.

volta-se ao fato não previsto por Janice, nem mesmo pelas senhoras da uva.

Muriel terminaria estirado numa das tabas com as uvas, uvas acopladas de sangue.

num desses domingos de vento Muriel sentia pela última vez o cheiro de uvas e na calçada do morro punha-se a chorar Katia

o choro. o choro da viúva, mãe de dois filhos empregada doméstica e moradora da periferia.

invisível que era só se via lágrimas a descer. lá do alto.

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