Vaidosa Cesário Verde
Dizem que tu és pura como um lírio E mais fria e insensível que o granito, E que eu que passo por aí por favorito Vivo louco de dor e de martírio.
Contam que tens um modo altivo e sério, Que és muito desdenhosa e presumida, E que o maior prazer da tua vida, Seria acompanhar-me ao cemitério
Chamam-te a bela imperatriz das fátuas, A déspota, a fatal, o figurino, E afirmam que és um molde alabastrino, E não tens coração, como as estátuas.
E narram o cruel martirológio Dos que são teus, ó corpo sem defeito, E julgam que é monótono o teu peito Como o bater cadente dum relógio.
Porém eu sei que tu, que como um ópio Me matas, me desvairas e adormeces És tão loira e doirada como as messes E possuis muito amor? Muito amor-próprio!