OLHAR
Eu não sei se mereço que incline os teus olhos, eles ainda tão antropológicos, em minha direção: eu, que sou todo pensamento, dúvida e tristeza, nem tenho esperanças mais na tua observação!
Além da efemeridade, além dos mistérios do tempo, minha alma habitará sonhos que não compreenderão: e minha vida tão sofrida, e meu corpo tão enfadonho, acabarão na tua dureza, e ao teu olhar se humilharão…
Contudo, o meu amor, sem forças nem significado, procurará noutras mil vidas a tua antiga bondade… E o tempo voltará numa branda lágrima de tristeza, e a imaginação trará tantas auroras de saudade!
E por todos, e por ti e por mim, somente amargura, as estrelas ir-se-ão apagando pequenas e claras. O silêncio removerá a lágrima, e o vento e a lua: só ficarão as tristonhas estrelas das tuas palavras.