Meia lágrima
Não, a água não me escorre entre os dedos, tenho as mãos em concha e no côncavo de minhas palmas meia gota me basta.
Das lágrimas em meus olhos secos, basta o meio tom do soluço para dizer o pranto inteiro.
Sei ainda ver com um só olho, enquanto o outro, o cisco cerceia e da visão que me resta vazo o invisível e vejo as inesquecíveis sombras dos que já se foram.
Da língua cortada, digo tudo, amasso o silencio e no farfalhar do meio som solto o grito do grito do grito e encontro a fala anterior, aquela que emudecida, conservou a voz e os sentidos nos labirintos da lembrança.