Não vás tão docilmente nessa noite linda Que a velhice arda e brade ao término do dia Clama, clama contra o apagar da luz que finda!
Embora o sábio entenda que a treva é bem-vinda Quando a palavra já perdeu toda a magia, Não vai tão docilmente nessa noite linda.
O justo, à última onda, ao entrever, ainda, Seus débeis dons dançando ao verde da baía, Clama, clama contra o apagar da luz que finda.
O louco que, a sorrir, sofreia o sol e brinda, Sem saber que o feriu com a sua ousadia, Não vai tão docilmente nessa noite linda.
O grave, quase cego, ao vislumbrar o fim da Aurora astral que o seu olhar incendiaria, Clama, clama contra o apagar da luz que finda.
Assim, meu pai, do alto que nos deslinda Me abençoa ou maldiz. Rogo-te todavia: Não vás tão docilmente nessa noite linda. Clama, clama contra o apagar da luz que finda.
Nota: Versão em português do poema “Do not go gentle into that good night”. Tradução: Augusto de Campos