Olhar o mundo Pelos vidros da janela Em vez de ir lá e ver E depois, quando a garoa estia Dizer que durante a tempestade Mil relâmpagos havia E os via de dois em dois Ilusão tão ranzinza Num céu pra lá de cinza Sonhar outra vida Refutar à própria estrada Não chegou a nada E perdeu a chance de ser A pessoa que era Chorou, na chegada no outono O riso que fingiu na primavera E nem era preciso Você tira o canto ao pássaro A impor-lhe uma vida de espera Um cântaro vazio Água fria não há Mas tem sempre uma nascente oculta Num lugar qualquer da poesia O poeta a busca Enquanto o pássaro a pranteia Volta e meia se confundem A escuridão revela Claridade ofusca Patéticos detalhes Arquétipos pra lá de tolos Os ares ao redor de Éolo Serão sopros de ideias novas Sempre as velhas mesmas Resultando em nada Estrelas no céu Manto estampado Um oceano em baixo Pode ser que ao lado Fronteiras do mundo Simplesmente areia Ilusão que germina a semente Tão astuta era a promessa Que resulta morta O caminho era torto Perde a luta e teu melhor da vida Criança de braços abertos Tropeça Com pressa de abraçar o mundo Abraça o chão Simplesmente ilusão E chora, até que percebe Que teria sido um tanto bom O tom do sustenido inverso Ter nascido um simples grão de areia Viajar por entre versos E passear por todas as esferas Estrelas, quasares, grupos de Planetas Tão bonito e imenso Céu Atravessar a vida Na garupa de um cometa Entoar, de carona Um murmúrio inaudível E segue a eternidade Cantando a milhões de Universos
Edson Ricardo Paiva.