Ouvi todos, pois em verdade assim aconteceu: Estava Buda certo dia na montanha Grdhrakuta, em companhia de seus santos eleitos e de discípulos iluminados, quando uma multidão composta de monges e monjas, fiéis de ambos os sexos, seres celestiais, dragões e espíritos demoníacos, juntou-se querendo ouvir sua pregação. E ao redor do trono de Lótus em que Buda se sentava, respeitosos reuniram-se todos, seu santo rosto contemplando sem ao menos piscar. Foi então que Buda pregando disse:
‘Devotos do mundo inteiro ouve-me: Deveis muito à bondade do pai, Deveis muito à compaixão da mãe. Pois se o homem está nesse mundo Tem por causa o karma, E por agentes do karma os pais.
Não fosse pelo pai não nasceríeis, Não fosse pela mãe não nasceríeis, Eis porque Da semente paterna recebeis o espírito, Ao ventre materno deveis a forma.
E por causa dessa relação cármica, Nada neste mundo se compara Ao misericordioso amor de uma mãe: A ela deveis a eterna gratidão.
Desde o momento em que a mãe O filho recebe no ventre, Nove meses ela passa sofrendo, Em cada ato cotidiano – No andar, no parar, no sentar, no dormir. E o sofrimento não lhe dando trégua, Perde a mãe a vontade De satisfazer a fome e a sede, e também de ataviar-se, Apenas pensando em dar à luz o filho com segurança.
Os meses se completam O dia do nascimento chega, E os ventos cármicos o acontecimento apressam. Sente dores a mãe em cada osso e cada junta, Treme o pai de ansiedade pela mãe e pelo filho, Parentes e conhecidos com ele sofrem. Nasce o filho sobre a relva, Infinita é a alegria dos pais, Semelhante à da mulher pobre que de súbito ganha, Mágica pérola que todos os desejos realiza.
Ao ouvir o primeiro choro do filho, Sente a mãe também ela renascer. A partir desse dia o filho No colo da mãe dorme, Em seus joelhos brinca, Do seu leite se alimenta, E em sua misericórdia vive. Sem a mãe o filho não se veste nem se despe. A mãe, mesmo faminta, tira da própria boca Para o filho alimentar. Sem a mãe um filho não se cria. Considerai, todos, Quanto leite sorvestes ao seio materno: – Oitenta medidas repletas por dia! E o tamanho do débito para com vossos pais: – Infinito como o céu.’
[…]