A bordo de mim
Trancafiada aqui, no abismo vi, o mar mostrou. Oculta em mim, embalo o fim, abordo estou. O imundo mar, sôfrego vem, se lamentar. Pálido! Gélido! Seco! Escureceu! Não sou mais eu, o mar sou eu! Fugi sem ar, me encarcerar, sombrio olhar. O medo embarca, revolve marcas do meu pesar. As ondas vêm, molham meus pés, vou mergulhar. Vento bravio, um calafrio me faz chorar. Tempestade a vista, revira o barco, me embaraço no relembrar. Aos prantos grito! Sou eu o mito do tal amar! Ouço gemidos, fundo do mar! O horror convém, me mostra além, antigo olhar. Quando era ardor, quem sabe amor, levou o mar. Abordo estou, na noite vou, refugiar! A negra vem, me acompanhar. Seus braços frios, acariciam meu perturbar. O barco vira, quebra o retrato, faz em relapso o meu pesar. Corta meus pés, debruçada ao chão, sangro sem dor. Junto os pedaços, varrendo os cacos do opaco amor. A água vem, correntes vêm me soterrar! O barco alaga, tão logo afunda, o vento ajuda meu naufragar. A brisa leva o que restou, meu ser se afoga, o sal corrói, sôfrego amor.