POEMA SEM METÁFORAS
Eu primeiro fui criança antes disso já nasci não consigo me lembrar só me lembro que cresci que a vida era brincar uma hora a eternidade e a maior tristeza era ter que entrar pra casa o mundo uma brincadeira o olhar de sinceridade.
Mas eis que surgiu a mentira a gula e a vaidade a bem da verdade já havia só não sabia nomear as crianças pouco a pouco deixavam se abandonar o quintal vazio e oco e a maior tristeza era ter que crescer também achar na vida a rudeza, as primeiras brigas de traição?
Era poquinha, mas já pude entrever pela fechadura os sentimentos mais rudes: a solidão, o medo, amargura quis fugir pro passado, pro futuro, pra um lugar imaginário, fugir de casa, de mim, chorei, me bati, com meus próprios punhos, e ai, a maior tristeza era não saber desintristecer?
Eu cresci. Fui adolescente. Na verdade, já sentia um peso nos ombros, não beijei, tive poucos amigos. Esqueci de rimas e fui rumando o desconhecido. A maior tristeza, ai era minha indiferença. Queria sentir e não sentia, era quase uma doença sem cura que me atingia. Quis fugir, quis morrer planejei calculadamente já náo tinha o que perder tão perdida em mim somente sem pra quê, sem por quê toca meu peito e sente não sabia mais bater? Fui adulta. Não se engane não deixei de sofrer aprendi a enganar, aprendi as frases feitas. Poucos, raros amigos o trabalho sobre a mesa as folgas aos domingos? não sei se era indiferença não me lembro de pensar de sentir o que sentia só me lembro de me guiar uma consciência quase vazia? Uma casa escura e limpa. Mas não posso afirmar me ouve com atenção quem sabe se não há nessa casa um porão abre a porta devagar lá estão e estarão: o brinquedo, a inocência, o medo, a solidão, a morte, a indiferença. Se há, se houve, se haverá,