EVAN DO CARMO: UMA BRISA Parece-me, que no fim de tudo,…

UMA BRISA

Parece-me, que no fim de tudo, o que de fato buscamos é aumentar o prazer sempre mais prazer.

Queremos o prato feito, perfeito com mais gordura, mais azeite e vinho.

Queremos o ponto final na obra-prima o fim do capítulo, resolver o conflito do nosso mal fadado enrendo.

Queremos o epílogo, um posfácio honroso como uma lápide escrita em ouro.

Contudo, ao contemplar tudo isso o que temos é apenas um prefácio da obra que almejamos escrever.

Queremos o fim da temporada a plateia animada, em êxtase com o fim da comédia ou da tragédia que engendramos.

Ensaiamos tantos atos, e nunca conseguimos chegar ao fim do espetáculo à última cena, ao aplauso derradeiro.

Somos só estreia, iniciantes, aprendizes desse viver comum sem honra ou gloria imortal.

As cortinas se abrem e nós nos apresentamos como digníssimos palhaços doutores, advogados, escritores, poetas, artistas, pintores, cantores, alfaiates, políticos, prostitutas, pai ou mãe de família abnegados, alcoólatras inveterados.

Mas em um belo dia, num fatídico dia as cortinas se fecham, antes que a temporada se acabe então nos encontramos com o nosso verdadeiro eu, é quando tudo termina, e a existência se finda e a nossa personagem se despe do natural disfarce assim, o homem não conclui seu último ato não põe o ponto final na obra-prima, não resolve o conflito, não escreve o posfácio.

Em vez de eternidade, fatalidade, estrela cadente, uma brisa, sutil e distraída.

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