A lente do amor grudou na retina e trouxe a realidade para a paixão. Agora, nela, vê-se poros abertos, veias desconcertantes e azuis ao lado das narinas, que inspiram e expiram o cansaço enfisêmico dos pulmões que já inflaram de êxtase e susto espera e dor.
Como é engraçada a miopia dos amantes histéricos.
Mas os olhos podem descansar do criativo, as lentes revelam o cabelo debaixo da peruca e, abaixo do cabelo, o couro. Que por vezes escama e coça e dá vontade de escalpelar.
Como é engraçada a verdade que ninguém quer ouvir.
E aqueles, antes cegos, quase idiotas, reconhecem primeiro a sombra, depois os relevos, enfim as cores e as texturas. E as lentes preenchem a transparência, entupindo-a de estômagos, pâncreas, fígados e intestinos; não dando mais para ver-se ? vê-se o outro. Então há o horror, e por fim, que é começo, o amor.
Como é engraçada a vida, posto que é só isso.
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