UM SALTO NO ESCURO
(Sobre as recentes descobertas de mortos não descobertos.
Mãos para trás, pulsos apertados em algemas de gesso. Frio estomacal, qual paraquedista neófito.
. . .
Impelido sem oferecer resistência, flutuei no ar. Torturante giro no escurejar das trevas.
. . .
Enfim, sós ! Eu, em descenso na vertical, e o meu algoz, que seguiu planeando na horizontal. Formaram uma cruz nossas coordenadas.
. . .
Ninguém escutou meu derradeiro grito, disperso no silêncio do infinito: . . .?Independência ou Morte ! . . .?
. . .
Morte? Indolência. . . Languidez. . . Talvez ! . . . Corpo e alma na última descida da vida.
. . .
Foi o meu pensar no ligeiro instante antes do mergulhar profundo num ondeado e gélido mar bravio.
. . .
A escuridão das águas, a mesma do noturno céu nublado, a mesma dos pensares militares, subordinados.
. . .
Imaginei-me sobrenadando em lágrimas derramadas de tantas mães e irmãos em esperas vãs.
. . .
Por certo, meu corpo leve, a uma peso atado, não ousou vaguear nas vagas do revoltoso mar.
. . .
Fato consumado
? ! . . .
Virei marisco, que ainda agoniza entre ideológicas forças antagônicas.