Fiquei doido, fiquei tonto… Meus beijos foram sem conto, Apertei-a contra mim, Aconcheguei-a em meus braços, Embriaguei-me de abraços… Fiquei tonto e foi assim…
Sua boca sabe a flores, Bonequinha, meus amores, Minha boneca que tem Bracinhos para enlaçar-me, E tantos beijos p’ra dar-me Quantos eu lhe dou também.
Ah que tontura e que fogo! Se estou perto dela, é logo Uma pressa em meu olhar, Uma música em minha alma, Perdida de toda a calma, E eu sem a querer achar.
Dá-me beijos, dá-me tantos Que, enleado nos teus encantos, Preso nos abraços teus, Eu não sinta a própria vida, Nem minha alma, ave perdida No azul-amor dos teus céus.
Não descanso, não projecto Nada certo, sempre inquieto Quando te não beijo, amor, Por te beijar, e se beijo Por não me encher o desejo Nem o meu beijo melhor. (Fernando Pessoa)