Canção do amor livre
Se me quiseres amar não despe somente a roupa.
Eu digo: também a crosta feita de escamas de pedra e limo dentro de ti,
pelo sangue recebida tecida de medo e ganância má.
Ar de pântano diário nos pulmões.
Raiz de gestos legais e limbo do homem só numa ilha.
Eu digo: também a crosta essa que a classe gerou vil, tirânica, escamenta.
Se me quiseres amar. Agora teu corpo é fruto.
Peixe e pássaro, cabelos de fogo e cobre. Madeira e água deslizante, fuga ai rija cintura de potro bravo.
Teu corpo. Relâmpago, depois repouso sem memória, noturno.