Jacinta Passos: Canção do amor livre Se me quiseres…

Canção do amor livre

Se me quiseres amar não despe somente a roupa.

Eu digo: também a crosta feita de escamas de pedra e limo dentro de ti,

pelo sangue recebida tecida de medo e ganância má.

Ar de pântano diário nos pulmões.

Raiz de gestos legais e limbo do homem só numa ilha.

Eu digo: também a crosta essa que a classe gerou vil, tirânica, escamenta.

Se me quiseres amar. Agora teu corpo é fruto.

Peixe e pássaro, cabelos de fogo e cobre. Madeira e água deslizante, fuga ai rija cintura de potro bravo.

Teu corpo. Relâmpago, depois repouso sem memória, noturno.

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