Adormecer
Tenho vivido todas as vidas Sofrido a dor de todas as mortes Chorado a saudade de todos os amores Hoje sem fisionomia e sem nome Mas presente a oprimir meu peito vazio
Tenho padecido de uma crônica e longínqua dor Localizada em tudo e em lugar nenhum Que me dilacera sem piedade Como um punhal sutil e afiado Que corta e faz jorrar sangue sem deixar cicatriz
Infinitas vezes eu nasci e morri E essa inquietude ronda e esmaga meu existir Trama sangrenta que insiste em me acompanhar Rasga e expõe minha alma a soluçar Memória triste e chorosa contida em todo lugar
Vivo a espera da grande travessia Meu desejo é repousar na eternidade De encontro aos meus próprios retalhos Registrados na memória do tempo Para na completude do meu ser em paz adormecer
Do livro: Quando a vida renasce do caos