Janete Manacá: Andarilha Chegou como um pássaro…

Andarilha

Chegou como um pássaro noturno Em plena sombra da escuridão A princípio uma andarilha Vestia preto com cabelos desalinhados

Olhar perdido preso ao passado Disse-me que era voluntária Trabalhava com os filhos da ilusão Seu nome era Ana como a avó de Jesus

Morava num bairro afastado da cidade Tinha um crucifixo preso entre as mãos E não se preocupava com a solidão Sentia-se amparada por abençoadas mãos

Pediu licença, puxou a cadeira E sentou-se ao lado do meu coração Contou-me muitas histórias antigas E libertou a criança da infância reprimida

Falou de fé, cura e libertação Do poder da chave de Davi Para expulsar dores e cicatrizar feridas Transmutar mágoas de um passado infeliz

Hoje, sozinha, caminha na noite sem destino E agradece quem ouve o seu lamento Seu sorriso indecifrável é mais uma súplica De quem perdeu a memória e segue sem direção

Do livro:Extasiada de Infinitos

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