Joana de Oviedo: CANÇÃO DO AMADO Era madrugada e ela…

CANÇÃO DO AMADO

Era madrugada e ela dormia languidamente sobre o lençol de cetim. Sonhou que havia alguém batendo à porta querendo entrar, havia barulhos de mãos na maçaneta. (Oh, quem seria àquela hora?!) Era o amado que a chamava para um passeio no jardim, e lhe trouxera cestas de figos, flores e perfumes… Mas ela estava cansada! A luminosidade do lençol de cetim a convidava, dizendo: – Não abra! É muito tarde! Eis que o amado saiu com frio e o corpo molhado d?orvalho, às ruas cobertas de folhagens e pétalas que a chuva fizera cair… Ao longe ainda ouviam-se os passos cansados do amado e um perfume de flor ficara na maçaneta. Sentiu saudades! Era dele o perfume. Saiu correndo descalça e com roupas de dormir. Havia homens maus nas ruas que a açoitara. Ela dizia: – Estou atrás do meu amado… Acaso não o vistes? Ainda há pouco quis estar comigo! Deixem-me ir! Mas os homens responderam com escárnio: – Você não tem amado algum! Se tivesse, o perfume dele estaria em seu corpo, porém, agora estará em nossas mãos, será prisioneira até que seu amado venha buscá-la! Pode dormir! Agora não mais sobre o lençol de cetim, mas na calçada suja, molhada. Corpo ferido, sonhando com o amado e com as flores que lhe deixara.

(Reeleitura do Cap. 03 de Cantares de Salomão em forma de poesia.)

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