João Batista do Lago: OPULÊNCIA DA VELHA SENHORA De João…

OPULÊNCIA DA VELHA SENHORA

De João Batista do Lago

São Luis ? essa Velha Senhora! ? Quanta opulência ainda te mora Segredada em teus casarios Nas tuas ruas estreitas? sombrias Em tuas pedras de cantarias Nos becos de todos os Desterros: Sombras que tatuam teu presente!

Teus poetas sequer desconfiam Do mal luso em ti segredado Desconhecem as tuas patranhas Amam-te ? todos! ? enganados Porém ? eu ? sei das artimanhas: Teu altruismo de vãs veleidades É ?Quimera? colonial

Cantamos os teus azulejos Declamamos as tuas sacadas Nos extasiamos com telhados Pintamos de orgulho toda Ilha Porém não temos sentimento Para enxergar toda obviedade: Índios e negros marginais da cidade

O ?fausto? da Velha Senhora Expande-se à Caxias e Alcântara Onde também se cantam versos Da nobiliarquia maranhense Onde suas gentes nobilíssimas São almas per se condenadas Por algozes do algodão e arroz

Do estratagema dominante Monta-se a treta arrogante Miscigenam-se as nacionais Com filhos de comerciantes Garantia do futuro ufano De escravagistas sociais Casta de senhores feudais

É dessa casta que aparece o Estupro da preta escrava Nos casarios e nas senzalas Sob o manto desses silêncios Relicários da velha igreja Estuprada pelo vintém Perdoará pecado senhorio

É desse caráter social De fonte lusitana tosca o Genocídio do povo indígena Ainda hoje aqui perpetrado Pelo lusitano esquálido Que se imagina proprietário Da nação timbira sem terra

A Velha Senhora impávida Desfilava só sua opulência Sobre as pedras de cantaria Sua carruagem sempre rangia No lombo negro que sofria A mesma desgraçada sorte De um Souzândrade ameríndio

Atenas fez-se por encanto Pensando ser toda sua glória Esparta faz-se na história Ainda hoje na sua memória Retém os grilhões dos infantes Almas penadas que vergastam Ruas e becos da Velha Senhora

Índios? negros ? sempre! ? excluídos Remetem a uma não Paideia Mesmo que a opulência planteia No imaginário dum só poeta Por certo haverá miséria na Opulenta Ática timbira

Amo-te ? Ó Velha Senhora! ? E quanto mais amante sou Te quero livrar dos pecados Dar-te o fogo dos numinosos Ver-te livre das injustiças Saber-te mãe eterna: virtude Plena de toda alteridade

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