José Carlos Limeira: O poder do poema Um poema pode surgir…

O poder do poema

Um poema pode surgir silente, insolente, trôpego, carente, somente semente Como o canto que só no recolhimento se ouve, ao toque seguro e forte Que só o alabê mais velho sabe Ou o eco que da voz da mulher de Aleduma ecoa Ou o encanto da manhã mais terna Quando o sol banha manso e surpreso as areias de uma praia distante, bem distante… Um poema quando quer surge de onde quer Veste a fatiota de um baile antigo, ou o abadá do bloco de reggae E sem perigo segue Sem amarras, pois cordas não lhe servem para as danças das yaôs vestais e marés Somente meneios doces e vindos dos pés Um poema consome o tempo da espera e pode durar um minuto, um século ou uma era Pode despir-se do sorriso desta tarde e inaugurar outro silêncio na aurora Pode ainda ser cúmplice de um festim posto a contragosto Dos miseráveis vestidos todos de ternos e gravatas contando bravatas ao oco do mundo Um poema vai fundo, pode estar imundo, mas dando respostas aos insurretos, ou a outros que se rotulam ou se julgam donos dos becos,vielas e guetos Um poema pode e deve ser a resposta de quem gosta ou não gosta do que diz alguém Um só poema vale mais que cem, pretexto para cena é tema Desarticula o inusitado do verso curso diverso, afluente da estrofe, desabafo, dilema Ou erro confesso, não sabe o próprio endereço, para desaguar conjunto, Verbo, promessa e apreço no oceano pretenso do completo sentimento Que possuo e mereço.

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