Águas de ontem
Vasculhei nos acúmulos do baú, a procurar um poema belo No juntado de saudade nada encontrei senão lágrimas doidas Segui remexendo, entre amores perdidos no tempo, dores Sabores ainda não degustados e muitos dilemas
Havia ali, esquecidos, alguns sorrisos em preto e branco Alguns instantes eternizados na fotografia betumada Tantos entre tantos, encontros e partidas Abraços vivos ainda longe, muito longe da despedida
O coração, navegante sereno, agitou as águas do mar Dos olhos de ver o ontem, choveu uma tarde inteira Fiquei absolto nas corredeiras que se formavam E o poema encontrei, náufrago e ilhado
Estava ali um tesouro de valia duvidosa para alheios Um monte de coisas velhas, sobrepostas, incompletas Cadernos de rascunho de próprio punho Onde alguém assinava com alcunha de poeta
Sobre o poema? O poema era tudo aquilo ali esquecido O poema era o tempo vencido Onde estarrecido agora chorava em silêncio O menino de ontem… Envelhecido.
José Regi