O POETINHA E A RÉGUA
O poetinha acordou Tomado de inspiração Quis abrir o coração A tudo o que lhe acontecia Quis dizer do sentimento Da dor daquele momento E tudo o mais que sofria
Pegou a régua o poetinha E passou a medir os versos Passou a contar as rimas Que corriam no papel E quanto mais ele contava E quanto mais ele media Bem mais a rima escorria Em inspirado cordel
Mas o poetinha, coitado Desejava ser letrado Sonhava em ser publicado No mais famoso jornal E até quem sabe um dia Entrar para a academia E ter da sua poesia O aplauso universal
Metrificou cada verso Enquadrou a redondilha Enfiou uma sextilha Escreveu um alexandrino E pra mostrar que era bom Esquadrinhou cada som Findou com um tom sobre tom O seu trabalho mais fino
Seu poema magistral Logo saiu no jornal Ficou famoso afinal E convidado à academia Envergou o seu fardão Seguiu toda a convenção Mas no fundo do coração A sua alma sofria
Era a poesia que gritava Chorando por liberdade Pois o poeta covarde A mantinha acorrentada Presa em vil estrutura A sua essência mais pura Perdia toda a formosura Estava metrificada
Então o poetinha entendeu Que o verso não era seu E aquilo que escreveu Não era da sua lavra Ou era, mas não dizia De verdade o que sentia E que a verdadeira poesia Não mede suas palavras
E ele jogou fora a régua Quebrou a calculadora E a poesia avassaladora Lhe chegou em inspiração Passou a noite escrevendo E com o dia amanhecendo O poeta foi reaprendendo A escrever com o coração.
(Joseli Dias)