Kevin Martins: E eu só queria explicar minha…

E eu só queria explicar minha depressão aos domingos. Tudo parece se arrastar, como um mendigo com uma ferida na perna. Quis estudar e fico tonto só de ler um parágrafo. Quis levantar e fiquei cansado só de pensar que o mundo ainda gira. Sabe aquela história de que você acostuma com livros bons, filmes bons, e quando pega qualquer coisa medíocre, acha muito pior do que realmente é? Pois é. Quando se acostuma com o bom, se acostuma. Qualquer outra coisa, parece não chegar perto. Minha amada passou muito tempo comigo, nesses últimos dias. Agora eu sinto a impossibilidade de ver o mundo bonito, se ela não está comigo. Eu tentei fugir do cupido, mas ele me viu correr. De raiva, me derrubou – e com os olhos marejados de ira – não usou flecha. Puxou sua .357 Magnum, apontou ao meu peito e disparou. Nenhum ser humano aguentaria isso. Fugi tanto de mim, das relações humanas, que agora eu não quero mais fugir. Na verdade, não quero fugir da minha relação com ela – já que sempre fugi das outras mulheres. As relações humanas ainda são complicadas em demasia para mim. Família, dinheiro, nunca entendi bem. Quero terminar esse maço de cigarros, beber a cerveja que ela deixou aqui. Descansar as pernas. Queria até chorar, mas ta difícil e eu não tenho motivos – não agora. Me sinto angustiado – como se isso fosse uma novidade quando não tenho minha amada. Nenhum tempo do relógio é suficiente, quando a alma vive os segundos.

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