Kevin Martins: Ela passou por mim. Desde essa hora foi…

Ela passou por mim. Desde essa hora foi que o dia começou, mesmo sendo fim da tarde. Cheguei na aula e não conseguia mais prestar atenção em nada. Tive sono, fui buscar um café, comprar umas balas. Se fossem tempos passados, eu estaria fumando algo mais forte e bebendo minha cerveja com whisky. Os motoristas de ônibus, que trazem os alunos das cidades aqui de perto, chegaram no bar. Eu vos olhei e me coloquei no meu corpo de menino. Me senti num domingo chuvoso. Fim de tarde. Chimarrão doce, que minha mãe fazia. Bolo de chuva. Não sei o motivo desse transporte. Só sei que não quero me tornar sociável como eles se mostram agora. Um parece que suga o outro. Se existia algum inteligente, ali, precisou segurar as ideias, as palavras, porque os outros o chamariam de louco ou não entenderiam. A vida é competente em torná-lo medíocre. As pessoas são competentes em te jogar pra baixo, fazer com que se iguale a elas. Tive que escrever no celular. Eu odeio ele. Parece que toda inspiração quer fugir e você tem que puxá-la pelo cabelo – cabelo comprido, pois é uma bela mulher que me tenta. Esqueci caderno, caneta, livros, papeis, lá na sala – o caderno é mentira, não tenho um. Os escritores dizem ser difícil escrever. Vão à merda, se acham isso! Vão procurar outra coisa para fazer. A escrita só tem que doer depois de lida. Ela é o resultado da dor, não a dor em si. Nunca vou deixar de lhe falar isso: não tente!

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