Apanhador do cerrado
Uso o meu olhar para apanhar o cerrado As palavras tortas compõem o mato crivado De cascas grossas, cascalhos e céu estrelado O chão na temporada de sequia, é maltratado Os jatobás fatigados tão firmes como as perobas Rodeiam os pequizeiros, tão “bãos” como as guarirobas Cheiro forte sabor da terra, como as doces gabirobas Entendo bem o sotaque é o povo deste chão Sou daqui, tenho respeito a toda esta tradição Povo das sucupiras, flores rasteiras e abelhas arapuá Tudo aqui tem força, tem suor, é aqui, é acolá Assim como a magia do canto da seriema e do sabia Deste cerrado místico, torto, certo e errado, sempre a brotar Que o tal desencanto encanta o poeta no poetar Este quintal que é o maior do mundo, que faz sonhar Me faz ser apanhador do cerrado, no meu versar.
© Luciano Spagnol ? poeta do cerrado