Poetizando o cerrado
entre arbustos, secura, a poesia escorre pela inspiração viscosa da vida, no cerrado os dedos empoeirados, no papel morre pra ressuscitar no pôr do sol encarnado
e em cada degustação, mais é mais criação invencionice dum poeta ávido em poetar sem biografia, cá um forasteiro na ilusão a estilhar poema nos dias da terra sem mar
entre troncos tortos, torta emoção, todavia o fado me pôs nesta sangria, chão sulcado onde escavo entre pedregulhos a arritmia do coração: saudoso, murmurante, calado
e nas madrugadas amarfanhadas, despertam as manhãs numa mesmice e numa tal inação me pondo no esquecimento que me apertam a solidão do selado e árido chão do sertão
nas sombras da noite sem sono, ao relento a ternura do vento enxuto, seca as lágrimas guardadas nas tralhas do esquecimento em pesados e brutos passos, de lástima
(entre os outonos meu poetar foi estacionado… no cerrado!).
© Luciano Spagnol poeta do cerrado
Cerrado goiano