Lágrimas da natureza
O rio corre apressado pro mar, sem se importar com os obstáculos, muito menos com as impurezas que lhe obrigam carregar.
O rio sempre escolhe, ao contrário dos homens, os caminhos mais simples, ainda que mais longos.
Com paciência escava as rochas por onde constrói passagens, mas não ameaça o solo ou a areia que não lhe oferecem resistência.
Se não fosse o homem que expõe o solo, que a chuva carrega e assoreia seu leito, não mudaria seu curso.
Teria as margens livres para abrigar suas cheias, e não chamariam catástrofes as águas que, como as lágrimas, os homens não contém no peito.
O rio corre apressado como se temesse o homem, e não soubesse que é infinita a jornada que não termina no mar.
No seu destino deixa as impurezas, se purifica no sal e esvanece ao sol, para evaporar aos céus de onde despenca como as lágrimas da natureza que tenta, inutilmente, lavar a sujeira que faz o homem em todo lugar.