Mirla Cecilia: Tu que falas dos meus pés descalços,…

Tu que falas dos meus pés descalços, não sabe o quanto a realidade me executa. Zomba dos meus trapos, mas tu que vestes trajes elegantes e permanece nu, encoberto de nada. Mas, não da nudez envolvente e sim aterrorizante, da face oculta, do mistério desencantado que ocorre em tuas veias. Teu coração é como uma terra estranha e sem vida. Aí de ti, se a chuva correr em tua pulsação fria. Aí de ti, se arar tua plenitude, o teu vazio. Como é injusta esta tua causa de viver. Nascestes com a semelhança contrária de Deus. Tu, sábia sombra do mal que planejas movimentar as palavras para ancorar o remorso nas asas dos que voam pela liberdade. Tua hora está pairando sobre o invisível. Hora que no seguinte sopro calará o choro silencioso da criança que um dia renasceu em mim. Tua hora espreita a maldição que lanças sobre o outro. Tu jaz uma cova viva, ambulante. Embriaga-se de almas, poço ofusco de ti. Lamentável e fadigante fim tragaste. No entanto, com tudo, tuas folhas regem a dor do mortal e eu continuo a viver…

Mirla Santos Ferreira

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