MEU MENINO
O menino que fui está distante Andando sobre algum lajedo, Vendo o resto das águas acumulado em poças Buracos que ainda cabem peixes, Proporcionais, ao tamanho de mim. Falo das poças dos peixes de ornamento Querendo saltar o menino, que por aí chora. E tudo eu faria para ir buscá-lo, Ter sua companhia, minha que falta Um pedaço que ficou, melhor Do que o que se ajoelhou , rezou e partiu. Eu queria o menino aqui comigo, Mas como reverter as luas, transgredir as estrelas, Os invernos que começaram e findaram, Tantos peixes que no fim morreram. Mas eu, se me conheço, Não me dei tempo, e assim mereço. O menino chora, a essas horas, Em que as cigarras cantam pro além. Onde pisam aqueles pés riscados de urtigas, Onde transportam o menino, que a mim fustiga, Sua desaparição, seu conforto de algodão, Suas conversas longas e boas, Tempos sorrindo à toa. Com quem ele se parece agora? Com as mudanças Que à ele não se assentaram, É do mesmo rosto, dos mesmos olhos, É dos mesmos dias, que não se passaram, Dos mesmos sonhos que não aconteceram. As estacas de unha-de-gato Devem estar ainda encostadas no pequizeiro, Não suportam mais a casa que sonhávamos fazer. Uma morada de quinze palmos de largura E nove mãos de altura. Lá íamos morar agregados de meu pai. Mas quem para me ajudar agora, Cavar, fincar estacas, subir a cumeeira, Bater o piso de malho, Pendurar as baladeiras, os bodoques, Espalhar as esteiras Para dormirmos ao meio dia. _______________ naeno*comreservas