AGULHA, PONTA E LINHA
Entre agulha, ponta e linha Vive o romance esquisito De um triângulo sem visco Que sempre finda aflito. A ponta é da agulha. E a linha? A linha, sempre sempre sozinha, Vive à procura do amor Que no outro amor se encontrou.
A agulha, bem de metal, Segue os passos da sua ponta, A que lhe abre o caminho E vai tecendo suas estampas; A que lhe chega de mansinho E, com jeito, devagarzinho, Passa aqui e passa ali Sem lhe fechar o caminho. A agulha, “enrijizada”, Sem precisar pensar em nada, Segue o caminho certinho Da ponta que lhe mostra a estrada.
A linha, essa sorrateira, Vive atrás da agulha faceira Que segue seu lindo curso Sem se lhe envergar nem um pouco. A linha, sem se dar conta, Vai deixando de perceber Que o caminho em que ela se encontra A ponta já esteve a fazer. E ela, a linha malvada, Sem se sentir resignada, Segue tonta, feito cega, Seguindo o caminho somente Que a ponta da agulha carrega.
Assim são as relações Que se estendem a três corações: A ponta conduz o caminho, Traçando sozinha o destino. A agulha segue a vida Despreocupada e destemida. A linha, que vem perdida, Só serve pra fechar saídas.
Aceite ser uma agulha E não se curve facilmente. Aceite ser uma ponta Que da agulha está à frente, Mas não aceite ser linha Que, sempre sempre sozinha, Percorre, sem nem um adeus, Um caminho que não é seu, Porque a ponta e a agulha No mesmo caminho seguem E deixam sempre para trás A linha que, na roupa que faz, Sozinha em si se perdeu.
Nara Minervino.