LAMENTO
Lamento pelos que ainda a aplaudem Não renegam teus atos e acolhem as sandices que decretas Que se debruçam e pactuam contigo sobre o visgo que amordaça Que obrigam que se desfile em fila e marchem cegos Que se siga sob o perverso e o descalabro Desalinhados sob as intempéries e o desalento
Não é este o vento nem o cantar da aurora que almejo Porque não se questiona nem protesta, apenas vão Acolchoados às divisas que fingem entrever Ainda que sentem que usurpas, contaminas com escarnio Mas o que é a troça senão O fato de tripudiar sobre os sonhos E a sede de quem apenas pede
Tenho vergonha pelo respeito que perderas Como feiras desertas ou salas às traças Sem ideias, lógica, de planos partidos, sem regra Desapropriada de quaisquer sentidos caprichosos No passar dos dias, no perder da massa Onde tudo se esvai, dilui, entorna, desagrega
Quando a ordem entretanto serpentear teu andor E deparar tua pobre face podre sobre o espelho praticável Espero que sintas desconfortável, ridícula O quanto estás nua, sem ética, desumana, solitária Porque verás as joias que costumavam brilhar, opacas As insígnias que a reverenciavam, decompostas E os aventais dobrados ao meio Desafiando o teu nefasto despudor