Com o dedo indicador contorno no etéreo os limites do que me constitui, até quase apalpar o que eu trago da natureza humana, e também o que dela me individualiza. Quando exposta ao oposto extremo do que me reconheço, vou contornando as fronteiras de onde não mais consigo avançar. Mas ainda não me expressei bem, pois é o tempo que nos prepara e estende na mesma medida em que lutamos para estar vivos, e em tudo o que nos agarramos para continuar. Alguém que estivesse dentro de um prédio em chamas poderia até se jogar de uma altura extraordinária pela esperança de continuar vivo, e acho que só agora eu me aproximo do que gostaria de transformar em palavras; essa sensação. Essa pessoa não sabe aonde vai cair, não há chão em que se apoiar, e voar dessa maneira, sem qualquer segurança, não está escrito em seus braços de não asas; e ainda assim, ela poderia se jogar, à revelia da sua própria natureza, em busca de uma temperatura mais amena. E no frio, como tremem os membros e lábios e o corpo que se agita; e como lutam as células, os músculos e os tecidos para manter a temperatura em um meio congelante. Como percorre o sangue, quase fugidio das extremidades, a fim de aquecer o que lhe é mais vital. Como lutam todos pela vida, para manter a sua natureza e, mesmo, o seu estado de matéria. O vapor que escorre em pequenas gotículas. A água que se afugenta da chapa quente, transformando-se em vapor. E como escorre o gelo e se desintegra, espalhando-se na pia. E o que dizer da água que se comprime em cubos quando a temperatura ultrapassa o zero? O que terá dito uma molécula, uma célula à outra? Eu não sei, mas se somos talvez expansões em espiral ou miniaturas de um todo que sequer conhecemos, penso que reagiram, talvez, dolorosamente. O que faço eu do desconhecido? ? é o que pergunta o homem. E a resposta, às vezes, é algum poder pequenino ou agigantado que ele junta daquele que herdou de seus antecessores. E se pudesse acender a luz do mundo, se pudesse acender todas as luzes, em todas as casas e dúvidas, quem sabe, fecharia os olhos para melhor conceber os frutos do seu entendimento. Dizem assim: o amor é cego. Quem sabe, fecharia os olhos para submergir no amor, esse outro desconhecido. E haveria, quem sabe, amor no amor e na causa do ódio, amor na gratidão e nas causas do ressentimento. Amor na luz e também na escuridão.
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