Garoto pobre da zona sul, de roupa e alma rasgada tecia seu verso, incerto em seu velho caderno azul.
O telhado tinha uma goteira, o madeirite tinha uma fresta, Pela fresta assistia o universo, A lua, as estrelas, que linda festa.
O dinheiro que o pai trazia, dava pro pão, mas faltava pra vida. A mãe dizia menino larga esse caderno que isso não dá futuro, só ferida.
O garoto da favela nunca esqueceu a viela, o povo, a dor, a sirene e o caderno. Foi pro mundo muito cedo, comprou um livro, vestiu um terno.
Nunca contestou as palavras afiadas de sua querida mãe. Desobedeceu ela até o fim da vida. Em seu jazigo um poema:
Morreu o poeta da viela, Venha estrela e venha lua, espiar por entre a fresta. Venham cear nessa rua, Chorar a morte, fazer uma festa. Cantar seus versos, contar seu amor Fazer com que saibam que poetas também nascem do calor da favela.
Roney Rodrigues em “Poeta da Viela”