Traição
Ela desceu as escadas bem devagar… queria correr… pra bem longe de seu triste presente… mas só conseguia descer bem devagar… queria tempo pra se arrepender e voltar?
Tinha sido tão abandonada… e nem sabia bem por quê. Enfado? Mas ela sempre dizia: “Amor, tudo pode ser renovado.”
Não… claro ela sabia, não é tudo sempre perfeito, mas pra tudo há jeito… havia o afeto, havia os dias calmos, havia a cumplicidade construída nos anos que passaram juntos. Passaram juntos mesmo?
Agora ela só estava mesmo era cheia de dúvidas. Estava acompanhada e completamente abandonada desde quando?
Como não tinha visto os sinais? A troca de senha do celular… alguns contornos tão inúteis… aqueles silêncios cortantes… como era possível o amor que ela havia acreditado ser todo seu não ser todo seu…
Achou que o melhor seria compartilhar com alguém sua dor… e suas dúvidas… pensou: ‘onde encontro alguém que também foi sempre abandonado?’
Mas seu mundo tinha caído… não ia conseguir no meio dos escombros encontrar nada..
E desceu devagar… bem devagar os onze andares.
Térreo. Entrou no elevador… apertou todos os andares… queria tempo pra se arrepender… não queria voltar… mas só conhecia o caminho de casa…
… Definitivamente… ia voltar… mas bem… bem devagar… talvez no caminho encontrasse forças pra se arrepender e de novo descer… e da vida dele desaparecer.
Talvez.