O verbo naufraga em silêncio [como de costume] E eu, avessa a tudo Levo comigo o cofre com os meus sete desejos Não há vírgulas enquanto sigo viagem Há um único e maldito parágrafo Que grita sem misericórdia! E eu! Eu hemorrágica! Nada estanca os delitos Que saem das minhas veias rompidas
Confesso meus homicídios, mas não peço perdão Há lacunas, há culpa, há sulcos em minha testa (e há vultos passeando pela minha sala)
Tempo, tempo, tempo
Lembro salmos, provérbios, versículos Percebo que desenho minha própria caricatura [e não vejo graça alguma]
Continuo sangrando e quase desfaleço Apresento os polos da minha versatilidade Enquanto volto atrás e lembro-me que azar também é palavra (mas que não se pronuncia) Tento a sorte, então E pergunto por deus… [que mudou de endereço faz tempo]
Vê, Senhor, o meu olhar de súplica! Trarias de volta a alegria da minha inocência??? E minha alma? Levaria de vez contigo?
Resgata-me com teus tentáculos de piedade Ou, Marca pra mim uma audiência com Cristo Fala que sou poeta. E desejo que ele escreva o prefácio do meu livro
Livro da Morte
Onde falo das minhas únicas certezas: Do fim Da decomposição da matéria Dos ossos secos Das minhas mentiras atenuadas pela licença poética
Ai de mim! Ai de mim!
No Livro da Morte É onde escondo o meu vocabulário chulo E os meus medos, os meus enganos, e todo esse meu ódio por ser volátil! E por estar em um caminho sem volta
Mas há consolo, mas há poesia, mas há canções de amor por toda a parte
Então prossigo Naufragando com um meio sorriso Vou reticente… Sempre. Até achar o ponto.