Tadeumemoria: SEM REAIS Com cem reais eu compro Dúzia…

SEM REAIS Com cem reais eu compro Dúzia e meia de jumentos, Cada jumento trabalha por dez homens E tem apenas um centésimo dos seus gastos, Com cem reais, por um mês E quinzena eu os alimento, Quem precisa de homens, Se temos vastos pastos E resistentes cascos; Com cem reais compro Não sei quantas rapaduras, Farinha e centenas de avoantes, E antes que chegue o inverno, Viro poeta e aprendo A sonhar com a invernada E nada que se diga de seca Atravessa aquela cerca, Nada que se fale de estio Secará meus lagos ou rios Com tudo isso compro o olhar E a gratidão de severina Compro as fantasias E tudo que ela imagina; Suas aspirinas e novalgina pra suas febres, Compro a eternidade e suas utopias; Mesmo que a seca mate meus jumentos; Que as rapaduras me tragam diabetes E o IBAMA me processe pelas avoantes; Antes de todas as doenças E todas as sentenças Serei romântico e farei dez filhos, Que me darão setenta netos Aos quais ensinarei que com cem reais Sob o sol causticante E ilusões de algum inverno Compra-se amor e sentimentos ternos Os prazeres dalguma severina E a aridez da vida naufraga nessa luta, Nos sonhos, na fé, nos carinhos divinos Dessa brisa que Deus acaricia na pele mestiça E postura valente do povo nordestino

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