Eu vi um rosto saindo Em meio à escuridão Ele me seguia Pedia algo pra matar a dor que sentia
Mas eu corria e envolta Por um campo de força Endurecia meu coração Mesmo vendo suas mãozinhas Tremendo da fome Que aperta As tripas
Eu vi o rosto daquele garoto Temendo o frio da madrugada E o seu colchão era feito De papelão Eu via o rosto dele Em sonhos e pesadelos E me embriagava na TV Mas, ele não desaparecia
Fui ao shopping Center e me empanturrei de batatas ele veio até mim disse tia ajuda aí eu disse não posso não tenho ele foi andando e sumiu na devastação desse mundo cheio de mins e outros que se apiedam e nada fazem com tanto poder nas mãos
então a última vez que o vi foi no noticiário faleceu por culpa da minha inação, da selva onde o pus sem letras, abraços e alimentação
eu vi o rosto daquele menino comendo lixo catando lixo sendo chamado assim e eu o que fiz? pensei : coitado cadê os pais? tão por ai com drogas ou já se foram pro além e eu não fiz nada não exigi que nada mudasse
ele mesmo assim me perdoou disse tia vá em paz que vou engraxar uns sapatos pra ver se arrumo o que comer e eu não fiz nada porque cinqüenta centavos não ensina nada, não o alimentaria nem sequer por um dia e eu vi seu rosto em tantos pelo caminho
eu vi o rosto daquele menino e compreendi a perfeição sou um resto de coisas fúteis que tinha na promoção e me bitolo nas coisinhas pequenas que faço no dia a dia e chamo de vida e esqueço que outros estão nela também
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