Thiago veiga: Para o algo que não sei… a dor que…
Para o algo que não sei…
a dor que fulgura é o que não se sente, com o tempo, que o tempo mofa as tenras carnes que me suportam e se esvaindo os espasmos que a mocidade trazia, e se acalmando a euforia, e tudo correndo tão calmo como rios secando.
a dor que fulgura é o que não sente minha besta juventude desejar asas das quais nunca terá , e assim gastar sangue e suor, e não perceber que se as tens voarás bens , mas até quando?
a dor que fulgura é entender que o cansaço se faz mais que a morte, que o corpo se distende sobre a alma e a alma sobre o corpo, e o teatro da tragédia se completa duas coisas abraçadas, no palco da existência, afagando cada qual inclinado no cansar à luta sem fim
ai de mim não sentir essa dor que não sinto, tanto dói quanto mata esse absinto de angustia sem fim .
cavo fundo cavo cavo
como a filosofia, como a vida amo-te e tu parte algum dia , seja mãe , avó , pai madrinha seja a amada minha que nunca foi.
dói tanto essa dor que não se sente, como repelente aos mosquitos que vivem, e se matam de vida, com tanto sangue tanta fartura existida.
não estou vivo como amante no sabor do calor desejado nem morto como as insólitas criaturas do trem ainda resta em mim um capim em tempestade de areia um abismo molhando tudo , mas tudo em sua estranheza.
vivo , é o que importa mas não basta , ainda viço a imaturidade, ainda não desfalecei-me na ignorância de me preocupar com as coisas que fazem as Desimportâncias as sublimes coisas inúteis, a beleza de Wilde.
ai dói-me esse espanto , mas o que me sara é ir contra o não sentir , pois quero sangrar , quero ver-me vivo , e dizer a cristo que sangro contigo por amar essa criação que sou um absurdo contraditório um demônio na pele de anjo um anjo em pele de demônio o filho que berra quando o pai determina o futuro a escultura que medra o pavor no artista de não saber por ande anda a forma. aquilo que vive
a dor que fulgura em mim é a dor de não sentir. mas ainda é dor , a velar para que a noite não venha.