V.C: Eu acho que vi o demônio. Eu acho que…

Eu acho que vi o demônio.

Eu acho que vi o demônio essa manha. Olhei meu reflexo no espelho e ouvi o “tic-tac´´ do relógio. Suspirei cansada e me arrastei até a cozinha. Fingi um sorriso e disse bom dia a minha mãe. Ela sorriu e me disse bom dia também. Engoli o café da manha. Preferiria estar morta do que comer. Não, a comida não estava ruim. Eu só não queria comer. Levantei e fui até meu quarto. Me joguei na cama e cobri meu corpo todo, até a cabeça, com o cobertor. Comecei a chorar baixinho esperando o tempo passar. Eu acho que vi o demônio essa tarde. Sentada na cadeira de madeira em silencio. Apenas ouço pessoas cheias de angustia e falsidades. Vazias de amor. Vazias de pensamentos. De sentimentos. Vazias de almas. O que eu posso falar? Eu também sou vazia de alma… Suspiro e deito a cabeça sobre a mesa. Ouço cochichos e volto a pensar. Apenas observo o tempo passar. Eu acho que vi o demônio essa noite. Voltei cansada de um dia chato e repetitivo. Passei sorrindo por minha mãe e fui direto para meu quarto. (Ela não suspeita. Ela não sabe. Ela não acredita.) Eu acho que vi o demônio. Porta aberta. Porta fechada. Porta aberta. Porta fechada. Corda na mão. Pé descalço na grama. Corda no galho da árvore. Pés sobre o chão. Balançando como o vento. Uma velocidade calma como uma brisa. Eu não vi o demônio. Eu sou ele.

V.C. Fim.

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