Central do Brasil
Que estranho grupo, matinal, eu vejo todos os dias na central. Velhos mendigos, bêbados inocentes, reticentes: débeis mentais maltrapilhos, prostitutas insones, no roldão do povo de rostos sem nome, derramado.
O homem a bater com a tábua nas árvores incrédulas. O pastor que prega, em péssimo português, ao povo que passa, com pressa, já sem convicção, nem religião. De quando em vez, um ladrão!
A professora-criança de livros e sacolas, em demanda da escola. Amostragem de um povo brasileiro, na luta sem tréguas, do dia-a-dia. Na busca do pão nosso de cada dia, em várias formas, nos diversos caminhos, das ilusões, de tantos corações que formam o grande vazio sem esperança.
Povo-formiga, rude, grosseiro, sujo, suado, que não olha para trás, mal humorado, que cospe no chão do vagão, que viaja nas portas do trem, pingentes da morte, no vai-e-vem da sorte. Povo-Brasil amalgamado no afã da sobrevivência. Gado-humano a desembocar no matadouro. Quem crê em ti fantasma? EU!